Homicídios de policiais dobram no Rio Grande do Norte
O número de agentes de segurança assassinados no Rio Grande do Norte em 2021, até o momento, já é maior que o registrado em todo o ano de 2020 no Estado. Foram10 homicídios de policiais civis e policiais militares, enquanto que em todo o ano de 2020 ocorreram 5 assassinatos de agentes públicos de segurança. Ou seja, a quantidade dobrou. Os dados são do Observatório da Violência (Obvio) e da Coordenadoria de Informações Estatísticas e Análises Criminais da Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Defesa Social (Coine/Sesed).
Os sargentos Jorge José de Souza, de 51 anos, e Aryellton Diogo Soares de Miranda, de 38 anos, dois policiais militares, são duas vítimas da crescente na violência contra agentes de segurança pública em solo potiguar. Os dois foram mortos de maneira semelhante em cidades diferentes, no dia 4 de julho, segundo informações da PM. O militar da reserva Jorge José estava em uma lanchonete em São Gonçalo do Amarante, na Grande Natal, quando foi surpreendido por dois criminosos. Os dois atiraram no policial e em seguida fugiram com a arma dele. Já Aryellton, que era lotado no canil do Batalhão de Choque, estava em uma casa de praia em Nísia Floresta, também na Região Metropolitana de Natal, quando sofreu disparos efetuados por um grupo armado.
O coordenador adjunto do Observatório da Violência do Rio Grande do Norte, Járvis Campos, destaca que a busca dos criminosos por armas de fogo é um dos fatores que ajudaram a impulsionar o aumento da violência contra os policiais. “Essa é uma situação muito delicada. O agente de segurança se sente muito compelido em andar sempre armado, mesmo estando de folga. Os criminosos também estão cada vez mais bem armados e isso gera um embate. Inclusive, a ampliação do acesso às armas no Brasil tem feito tanto vítimas nas esferas policiais quanto de criminosos. Os dados mostram essa tendência. Essa é uma questão que está diretamente ligada a essa crescente da violência contra essa categoria”, reforça Jarvis Campos.
De acordo com o Anuário de Segurança Pública, divulgado na quinta-feira (15) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o número de registros de armas no Rio Grande do Norte entre cidadãos aumentou 34,4% de 2019 para 2020: passou de 6.367 para 8.685. Ao todo, o estado tinha 16.791 registros ativos de armas de fogo no Sistema Nacional de Armas do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Sinarm/MJSP) em 2020, 21,6% a mais do que no ano passado. “É um paralelo que se pode traçar. Em todo Brasil, 78% das mortes são causadas por arma de fogo, então esse aumento no número de armas com certeza está relacionado sim ao aumento da letalidade policial”, acrescenta o especialista Járvis Campos.
Somente em 2021 foram assassinados oito policiais militares (ativa e reserva): Antônio Olmeto de Araújo Alvez; Dyego Ramon da Silva Grigório; Francisco Marcolino Sobrinho; Gustavo Pinheiro de Andrade; Haroldo Cavalcante Gomes; e Nelton Alves, além de Aryellton e Jorge José. Os policiais civis Cléverson Luiz Fontes e Kleber Mota da Nóbrega também foram mortos neste ano no Rio Grande do Norte.
O policial militar e presidente da Associação de Cabos e Soldados do Estado (ACS/RN), Roberto Campos, acredita em perseguição por parte dos criminosos. Para ele, os atentados são uma forma dos grupos organizados do crime de atingir frontalmente o poder do Estado. “Apesar de ser uma situação que é extremamente combatida pelo comando da polícia, para nós existe essa violência direcionada ao operador. O policial é uma categoria que morre apenas pela profissão. É visível quando se mata um operador de segurança acontecer uma queima de fogos em toda a criminalidade. É como se fosse uma personalização da afronta ao Estado por parte de determinados grupos criminosos do estado em comemoração àquele ato”, diz.
Os crimes que terminaram em mortes contra policiais voltaram a subir no estado após três anos. Os maiores índices foram registrados entre 2017 e 2018, quando o sistema penitenciário do Estado sofria com constantes instabilidades. À época, também segundo dados do Obvio e da Sesed, o aumento foi de 21 para 26 policiais mortos de um ano para o outro. Logo em seguida, a taxa baixou para 13 em 2019; 5 em 2020; e voltou a crescer neste ano com 10.
O coordenador de Análises Criminais da Sesed, Ivenio Hermes, aponta que a prática está atrelada a uma lógica de vitimização fora do serviço. Ele também afirma que a Polícia Civil criou o Núcleo Especial de Investigação de Mortes de Agentes de Segurança Pública (Nimas) especificamente para este fim, como forma de coibir novos crimes. “Os números mostram que a vulnerabilidade aumenta quando o policial está sem o aparato protetivo da guarnição e da representação do Estado. Para enfrentar esse tipo de violência letal, a DHPP [Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa] conta com um núcleo que dá celeridade às investigações para reduzir os índices de impunidade, além de se tornar uma resposta rápida do Estado para quem age contra agentes de segurança pública”, diz. Todas as mortes registradas neste ano estão sob investigação do Nimas.
Da Tribuna do Norte