Hasan Rabee: quem é o palestino com cidadania brasileira que fez ‘diário de guerra’ nas redes

O palestino com cidadania brasileira Hasan Rabee, de 30 anos, aguarda na fronteira de Rafah para sair de Gaza
O palestino com cidadania brasileira Hasan Rabee, de 30 anos, aguarda na fronteira de Rafah para sair de Gaza — Foto: Reprodução/ Instagram

“Bom dia, gente: a gente chegou na fronteira. Daqui a pouco vamos para o lado do Egito. Rezem por nós”, afirmou Hasan Rabee, palestino com cidadania brasileiro num vídeo que gravou instantes antes de concretizar a saída de Gaza, neste domingo. “Esse é o caminho para o Egito. Não falta muita coisa. Um segundo, um minuto”, emendou Hasan num segundo vídeo, já dentro de um ônibus entre o Portão de Rafah e o lado egípcio. “Chegamos ao Egito com apoio do governo federal. Muito obrigado, presidente Lula”, completou ele, numa terceira postagem, já no Egito.

Hasan Rabee, de 30 anos, ficou conhecido nacionalmente após começar a usar as redes sociais para divulgar e denunciar os ocorridos na guerra, além da situação do grupo brasileiro, que cruzou a fronteira e chegou ao Egito após mais de um mês de guerra. Ele morava em São Paulo desde 2014, quando fugiu de Gaza e viajou para o Brasil. Na capital paulista, recebeu status de refugiado e conseguiu emprego como vendedor de acessórios para celulares.

Quinze dias antes do início do conflito, iniciado em 7 de outubro, ele havia viajado para Gaza para visitar alguns parentes. Surpreendido pelo confronto, ficou preso na região, e disse temer pela vida da esposa e das filhas, de três e seis anos, que são brasileiras e viajaram com ele.

No Instagram, Hasan chegou a mostrar o momento da despedida de outros parentes, que não têm cidadania brasileira e permaneceram na Faixa de Gaza. Na ocasião, ele escreveu: “(A coisa) mais difícil na vida é deixar a minha mãe e duas irmãs e viajar”.

Ele continuou e afirmou que as duas “estão sem condições de vida” e que ele espera que “essa segunda lista de familiares saia logo, como prometeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.

Na sexta-feira, quando o grupo não conseguiu fazer a passagem para o Egito pela travessia de Rafah, Hasan disse que ainda tinha “fé” que a saída ocorreria “o quanto antes”. Esperançoso, ele aproveitou a postagem para agradecer o governo brasileiro e os embaixadores envolvidos nas negociações, e descreveu o dia como “uma grande vitória”.

“Gente, não deu para a gente sair hoje, mas tenho fé que amanhã talvez possamos sair, ou depois de amanhã. Grande vitória hoje”, escreveu como legenda de uma foto. Ele aparece sorrindo na imagem, fazendo um “v de vitória” com as mãos. Outros brasileiros estão atrás, também sorridentes e com bagagens em volta.

Na última quinta-feira, Hasan rebateu declarações do embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zohar Zonshine, que culpou o Hamas como “único fato” que provocou o atraso à saída do grupo para o Egito. Em vídeo compartilhado no Instagram, o palestino afirmou que “só aliados de Israel estavam saindo”, e que fala do diplomata era “mentira”.

“Vi a declaração do embaixador de Israel. [Ele] fala que não tem nada a ver com o atraso dos brasileiros. Como não tem nada a ver? Vocês que fazem essa lista, vocês que publicam essa lista. Só pessoas de aliados de Israel estão saindo. Não sei qual mentira é essa. Coloca nosso nome e depois a gente sai. Somos reféns aqui de Israel”.

Ele também afirmou que os brasileiros estavam com dificuldade para conseguir alguns alimentos e mantimentos básicos na região. Antes da fronteira abrir, Hasan relatou a escassez de itens como farinha, por exemplo, e alta nos preços, que saltaram de R$ 40 para R$ 300.

— A gente já não tem água encanada nem água mineral. A gente não encontra de jeito nenhum. Só teremos para poucos dias. Mais difícil agora é encontrar alimentação. Isso é quase impossível. Além da guerra, do bombardeio, outro sofrimento é o da comida. Muita gente passa fome.

Fonte: O Globo

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