Filme é primeira produção cinematográfica do Rio Grande do Norte a concorrer à Palma de Ouro no Festival de Cannes

Um filme sobre coragem ancorado na força da mulher e no desejo de mudança. Assim pode ser compreendido o espírito do filme Sideral, primeira produção cinematográfica do Rio Grande do Norte a concorrer à Palma de Ouro no Festival de Cannes. Com roteiro e direção de Carlos Segundo, professor e coordenador do curso de Comunicação Social Audiovisual da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o curta-metragem é ainda um dos dois representantes brasileiros na competição oficial do mais importante festival de cinema do mundo. O Festival de Cannes acontece entre os dias 6 e 17 de julho, no Palais des Festival, na cidade de Cannes, na França.

A produção que tem como pano de fundo o lançamento do primeiro foguete tripulado brasileiro na base aérea de Natal vai além da ficção-científica e explora, de forma tragicômica, os efeitos desse acontecimento na vida dos protagonistas Marcela, Marcos e seus dois filhos. De acordo com o diretor, o filme transita entre os campos poético e realista, convergindo elementos técnicos e estéticos de uma forma muito singular. “É uma obra que só poderia ter sido realizada aqui no Rio Grande do Norte”, destaca.

Filme foi produzido com atores potiguares – Foto: Miguel Sampaio

Sideral é uma coprodução internacional entre as empresas brasileiras Casa da Praia Filmes e O Sopro do Tempo e a francesa Les Valseurs, repetindo a parceria de outro trabalho dirigido por Carlos Segundo, o longa Fendas, lançado em 2019 no FID Marseille, com previsão de estreia comercial na França no final de julho de 2021. Com produção brasileira de Mariana Hardi e Pedro Fiuza, a produção genuinamente natalense estrelada por Priscilla Vilela e Enio Cavalcante conta com equipe e elenco de profissionais potiguares. O filme foi parcialmente financiado pela Lei Aldir Blanc. 

Na visão de Carlos, o filme busca representar a necessidade de estarmos atentos aos nossos desejos, anseios e ao momento de executá-los, trazendo um olhar para a coragem de realizá-los. “Vivemos em um momento tão difícil que essas possibilidades de fugas simbólicas, a partir do elemento da ficção científica, são muito potentes e nos possibilitam pensar algo diferente, de acreditar numa ficção, porque a realidade dura já nos judia muito”, pondera.

Audiovisual na UFRN

Produção levou três dias para ser filmada – Foto: Miguel Sampaio

Para a professora Lívia Cirne de Azevedo Pereira, chefe do Departamento de Comunicação (Decom/UFRN), o anúncio da seleção do filme do professor Carlos Segundo no Festival de Cannes foi recebido com grande alegria, sobretudo neste momento em que o curso de Audiovisual passa pelo processo de avaliação do Ministério da Educação (MEC). “Com certeza, é o nome da Universidade que também está sendo levado para um dos maiores festivais e vitrines de cinema do mundo”, diz.

Com apenas quatro anos de existência, o curso está em vistas de ser reconhecido pelo MEC e esse acontecimento tem grande significado para todos que fazem o Decom. “Isso acontecer junto a uma notícia dessa para o cinema nacional e regional dá aos alunos que almejam produzir cinema um incentivo psicológico na ordem do ‘podemos fazer; vamos fazer’, e pode ecoar por outras formas a outros realizadores”, enfatiza Carlos Segundo.

Seleção de Cannes

Sideral um dos dois representantes brasileiros na competição – Foto: Miguel Sampaio

Para Carlos, a seleção no Festival de Cannes pode servir como estímulo para as produções locais e regionais que enfrentam grandes dificuldades na hora de fazer cinema. “A gente quer viver disso, não quer morrer de fazer arte, então, perceber que tem retorno, que a gente consegue materializar isso, seja pelo Festival de Cannes, por uma participação internacional ou pela própria produção local, estimular as pessoas a espalhar pelo mundo esse universo cria expectativas muito grandes”, explica o professor.

Segundo Mariana Hardi, é um orgulho imenso ser selecionados no mais importante festival de cinema do mundo, produzindo com recursos locais, além de equipe técnica e artística formada por pessoas que já trabalham no mercado do audiovisual potiguar e que têm construído suas carreiras aqui. “É um atestado do nosso potencial, capacidade e sustentabilidade”, comemora.

Pedro Fiuza entende a indicação do filme à Palma de Ouro como uma chance de refletir sobre a importância do investimento em arte e cultura. “Em meio à uma pandemia e frente a várias crises, foi possível realizar o filme, evidenciando a importância da Lei Aldir Blanc e do investimento em cultura no país. Isso nos mostra que o Rio Grande do Norte e o Brasil têm toda a qualidade profissional e artística e que, se reconhecidos por políticas públicas e pela sociedade, também serão reconhecidos internacionalmente. Estamos fazendo história com essa seleção inédita para o RN, mas nossa obra não tem fronteiras artísticas e por isso podemos dizer que também somos o Brasil todo em Cannes”, defende.

Nas redes sociais, a governadora Fátima Bezerra comemorou a notícia, assim como várias outras autoridades. No Twitter, ela escreveu: “Que orgulho! Sideral, curta-metragem potiguar, vai concorrer à Palma de Ouro em Cannes, o maior festival de cinema do mundo! Escrito e dirigido por Carlos Segundo, o curta foi parcialmente financiado pela Lei Aldir Blanc do nosso estado. E ainda tem mais: essa é a primeira vez na história que um filme potiguar concorre à premiação. Desde já, torcendo muito! Só orgulho dos artistas da nossa terra, viu?”.

O diretor

Carlos Segundo terá outro filme exibido na França – Foto: Miguel Sampaio

Doutor em cinema pela Unicamp, Carlos Segundo é atualmente docente e coordenador do curso de Comunicação Social Audiovisual da UFRN. Diretor, fotógrafo, roteirista e montador, realizou mais de 15 obras, entre ficção e documentário, que, ao todo, circularam em mais de 250 festivais nacionais e internacionais. É ainda coordenador e curador de festivais, mostras e oficinas de formação. Sócio diretor da produtora O sopro do tempo.

Suas principais obras como diretor, além de Sideral, são: Ainda sangro por dentro (2016); Balança Brasil (2017); Subcutâneo (2018); Fendas (2019); e De vez em quando eu ardo (2020).

*Com informações da Casa da Praia Filmes

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