Família de paciente que morreu como suspeita de Covid-19 reclama de postura adotada pelo Hospital Regional do Seridó

Familiares da Dona Rita Pereira dos Santos, conhecida por todos de Jardim do Seridó como “Rita de Zé de Noel” usaram suas redes sociais para reclamar da postura adotada pelo Hospital Regional do Seridó, que classificou a mesma como suspeita de Covid-19, porem apesar da mesma ter vindo a óbito no próprio Hospital, não chegou a ser colhido material para a realização de exames de diagnóstico da doença.

Eis a nota da Família

Em respeito aos nossos amigos e conterrâneos, nós, da família de Rita Pereira dos Santos, ainda bastante consternados com o seu repentino óbito, decidimos vir a público para atualizá-los.

Pois silenciar seria abrir espaço para que mais histórias assim se repitam.

Como já é do conhecimento de todos, a nossa Ritinha, que já era portadora de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), depois de ter passado por uma triagem no Hospital Maternidade Dr. Ruy Mariz, em Jardim do Seridó, foi encaminhada ao Hospital Regional de Caicó, no dia 23.05.2020, como suspeita de Covid-19.

Importante destacar que não disponibilizaram, em nenhum dos dois hospitais, testes rápidos que confirmassem a doença nela ou em qualquer familiar que com ela habitasse.

Em Caicó, tivemos que deixá-la totalmente isolada, sem direito a acompanhante e a visitas, seguindo os protocolos do hospital.

Nos informaram que o teste Swab Nasal de Covid-19 seria realizado somente em três dias.

Às 05h da manhã do dia 27.05, quatro dias após a sua internação, fomos informados do seu óbito motivado por síndrome respiratória aguda grave – Lembrando que apesar dela estar no isolamento do hospital, em momento algum ela foi encaminhada para a UTI.

Também fomos avisados que o sepultamento seguiria o protocolo dos casos suspeitos. Logo, não nos foi permitido que realizássemos velório… O enterro aconteceu apenas 3h depois da notícia… Dos 9 filhos, apenas 3 foram autorizados a estarem presentes…Não pudemos sequer ver o seu rosto uma última vez…

Preocupados com a possibilidade de contaminação, entramos em contato com o Hospital Regional de Caicó para sabermos quando sairia o resultado do exame que ela, supostamente, havia feito no dia 26.05. *Eles nos disseram que o resultado sairia de 3 a 5 dias.

Contactamos o serviço de atendimento a família no 29, 30 e 31 e disseram que o resultado ainda não estava pronto.

Eis que no dia 01.06.2019 veio a notícia que ninguém esperava receber: *o teste sequer havia sido realizado.

Como alguém vem a óbito com suspeita de Covid-19 e não são feitos exames para confirmar? Como ficam as estatísticas e o controle epidemiológico? Como ficam os familiares que tiveram contato com ela? Como fica o coração de quem nunca terá uma resposta?

Indignados com essa notícia, interpomos requerimento formal junto a Direção do Hospital Regional de Caicó solicitando justificativas.

Em resposta, no dia 02.06.2020, recebemos um “Termo de notificação de Ato Adverso” nos informando sobre erro do hospital em não realizar a coleta; que o material que poderia ser usado para exame pós-morte já havia sido descartado e que seria apurada a responsabilidade e tomadas medidas para o controle epidemiológico.

Assim, somente após esse requerimento e decorridos mais de 12 dias da internação, a Secretaria de Saúde de Jardim do Seridó entrou em contato conosco para realizarmos os testes rápidos de Covid-19.

Recebemos na última quinta e sexta-feira os resultados: todos deram negativo.

Alívio? Dor? Impotência? Não sabemos ainda o que sentir a respeito.

Pois para todos os efeitos, sempre seremos vítimas dessa pandemia.

Vítimas porque não podemos estar com a nossa Ritinha nos seus últimos 4 dias de vida.

Vítimas porque fomos privados de sermos testados desde o início.

Vítimas porque sofremos inúmeros pré-julgamentos por isso.

Vítimas porque ansiávamos por um resultado de um teste que nunca chegaria.

Vítimas porque viveremos para sempre nessa incerteza.

Vítimas, assim, como toda a população que não está tendo acesso aos dados reais, já que casos suspeitos que vem a óbito, simplesmente, são negligenciados.

Mas a nossa “Véia”, “Mãe”, “Vovó”, “Bisa”, “Ritinha”, não será só mais um número apagado nas estatísticas!

Vamos para sempre lembrá-la pelo seu nome, como sinônimo de força, de fé, de mulher sertaneja, guerreira, que sempre nos ensinou a defendermos o que é certo.

Que o seu exemplo possa, pelo menos, ser usado para que as autoridades e os profissionais ajam com mais diligência e respeito, independentemente da idade e da condição econômica do paciente.

Que o Governo respeite todas as MUITO MAIS DE 35 MIL VÍTIMAS e que trate com dignidade as suas famílias.

E que toda a população possa se cuidar e cuidar melhor do próximo para que ninguém tenha que passar pela dor que nós estamos passando.

(Assinam essa nota seus 9 filhos, 17 netos, 12 bisnetos e o seu amado esposo José de Noel.)