‘Essa situação me fez querer mudar de vida’, diz homem dado como morto e ‘sepultado’ pela família no RS

Chandler da Silva Machado, de 26 anos, foi dado como morto

Após ser dado como morto e ter o velório e o enterro preparados pela família, em Passo Fundo (RS), Chandler da Silva Machado, de 26 anos, conta estar tentando reorganizar a vida. Na última quinta-feira (16), parentes do rapaz, que vivia em situação de rua, receberam a notícia de que ele teria falecido vítima de meningite. Poucas horas depois do funeral, no entanto, a irmã foi informada por mensagem nas redes sociais de que Chandler estava vivo.

— Essa situação me fez querer mudar de vida. Eu estava trabalhando em uma fazenda quando um amigo me encontrou e disse que estavam divulgando que eu tinha morrido. Eu não sabia como reagir e pedi pra ele gravar um vídeo e mandar para todo mundo dizendo que eu estava vivo — contou Chandler ao GLOBO, acrescentando que planeja recuperar seus documentos e começar um tratamento para dependentes químicos.

Chandler vivia nas ruas há cerca de nove meses devido à dependência química. De acordo com a irmã dele, Stefanie da Silva Machado, na quinta-feira a mãe foi chamada para reconhecer o corpo de um homem que havia falecido há três dias no Hospital de Clínicas de Passo Fundo (HC). Uma das assistentes sociais do Centro Pop, que presta serviço especializado a pessoas em situação de rua, suspeitou que o corpo pudesse ser de Chandler e repassou ao hospital o contato dos familiares para reconhecimento.

Algumas coincidências corroboraram para a família também constatar por engano que o corpo era de Chandler: a vítima era negra, tinha uma cicatriz do lado direito da testa e estava com cabelo e barba compridos, da mesma forma que os familiares tinham visto o rapaz há cerca de duas semanas. Além disso, o hospital informou que a morte teria ocorrido em decorrência de meningite, doença que a mãe de Chandler teve e teria probabilidade genética de o filho herdar.

— Minha mãe disse que o corpo estava muito inchado, mas que a cicatriz na testa era igual a do Chandler. Na sexta, preparamos o velório e enterro. Eu também vi a cicatriz na testa. Achamos estranho porque o homem tinha a pele mais escura, mas nos falaram que era devido ao estágio de decomposição — relata Stefanie.

A reviravolta veio horas após o sepultamento, quando a família recebeu um vídeo de um amigo de Chandler, no qual ele aparecia dizendo que estava vivo.

“Capaz, eu estou vivo, estou bem. Estou com muita comida, tudo de bom, ganhei do mercado aqui agora, estou bem, estou vivo, graças a Deus”, disse Chandler, que foi filmado por um conhecido que viu ele no bairro José Alexandre Zacchia.

Stefanie conta que após conseguir contato com o irmão, foi encontrá-lo pessoalmente para ter certeza que era ele e não uma gravação antiga. Agora, Chandler tenta recuperar seus documentos, já que seu CPF foi cancelado.

O caso será investigado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) do Rio Grande do Sul, que tenta descobrir a identidade do homem que foi enterrado.

O GLOBO procurou a secretaria de saúde de Passo Fundo (RS) para questionar sobre o caso, mas ainda não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

Fonte: O Globo