Erasmo Sabino analisa a situação do mercado imobiliário de Roraima em reunião com os empresários em Boa Vista

Há mais de 40 anos no mercado imobiliário, enfrentando desafios e superando limitações que o transformaram no maior empreendedor imobiliário de Roraima e um dos mais respeitados da Região Norte do Brasil, Erasmo Sabino Oliveira vê com grande preocupação os problemas enfrentados hoje por essa importante área da economia do País. Principalmente por que, como diz, o mercado imobiliário é uma corrente composta por vários elos e quando um deles enfraquece afeta toda a cadeia de negócios.

É o caso, por exemplo, da construção civil, mais especificamente de de imóveis de baixa renda, as chamadas moradias populares. Recentemente, uma nova norma técnica passou exigir que as casas sejam construídas com lajes, o que veio aumentar expressivamente o custo do metro quadrado, elevando o preço do imóvel e afastando construtores e potenciais compradores, incapazes de conseguir financiamento em razão da elevação do valor da prestação. Como solucionar esse problema?

Erasmo, dono de duas imobiliárias e que se tornou responsável pelos inúmeros empreendimentos que deram origem a mais de 40% dos bairros de Boa Vista, e que hoje está expandindo seus negócios também para o Nordeste, fala nesta entrevista o que pensa, o que sugere como alternativas para a busca de soluções e também analisa o momento atual do mercado, afetado por esses problemas.

Em princípio, o que está afetando mais diretamente o mercado imobiliário?

ERASMO – A par das dificuldades que a economia brasileira vem enfrentando já há vários anos, com retração do crescimento, que provocou o enfraquecimento do empresariado, levando a uma quebradeira geral no setor, tendo como consequência direta o desemprego de milhões de pessoas, o mercado imobiliário vem patinando sem conseguir voltar a se expandir. Há demanda, há crédito disponível, há uma cadeia de empreendimentos que tem um papel fundamental para sustentar a oferta, mas algumas medidas equivocadas estão impedindo que milhares de famílias, principalmente as de baixa renda, possam se valer desse mercado para realizar o sonho de ter uma casa própria. Como lembram os empresários da construção civil, estamos quase no fim de março e nestes três meses não foi feito nenhum financiamento pela Caixa Econômica Federal para esse setor. Se a imobiliária, que é o último elo da corrente, não tem imóveis para vender, ela não sobrevive; se a construção civil não tem obras para abastecer esse mercado, também irá andar para trás; se não há obras não há venda de materiais de construção e os empregos desaparecem. E um dos grandes problemas de momento não é demanda. Ela existe, é grande, mas há que se ter bom senso para normatizar a concessão do crédito, adotar cálculos realistas. Exigência demais, fora da realidade, só faz aumentar a crise.

Esses problemas afetam mais diretamente quais setores?

ERASMO – Em princípio as construtoras. Conversando com um desses empresários, Tiago Fragoso, ele me lembrou que a Caixa, que tem sido minha grande parceira em quase todos os empreendimento que tenho lançado nestas mais de quatro décadas aqui em Roraima, está adotando hoje um critérios cruel e injusto, que é a avaliação única, padronizada, para todo o território nacional. Não leva em consideração as peculiaridades regionais, como as de Roraima, cuja distância dos centros de produção e de distribuição de materiais de construção eleva significativamente o custo do frete. Portanto, os valores não podem ser os mesmos para São Paulo, por exemplo, e para Boa Vista. Com isso, o construtor não tem como viabilizar uma obra pelos preços que a instituição de crédito exige. Não dá, basta usar regra de três para ver que não dá.

Quem mais está sendo prejudicado com a retração do mercado?

ERASMO – Sem dúvida as lojas de materiais de construção é um desses elos que têm sido enfraquecidos por essa situação. Se não existem obras, não há vendas e se não há vendas, não há faturamento e se a empresa não fatura, vai definhando até fechar. Outros dois setores que estão enfrentando dificuldades são o de mão-de-obra e o de corretagem imobiliária. Se não há novas obras, não há como contratar, pelo contrário, as demissões aumentam cada vez mais e muita gente fica sem emprego; por outro lado, o corretor imobiliário, sem ter o que vender, também fica desempregado e o dono da imobiliária tem que fazer das tripas coração para sobreviver no mercado.

Que soluções podem fazer com que o mercado imobiliário volte a crescer?

ERASMO – O governo, as autoridades monetárias e as instituições financeiras responsáveis pela concessão de crédito precisam repensar as medidas que estão em vigor e que afetam principalmente a construção de casas populares, como as do programa “Minha Casa, Minha Vida”. Vamos tomar como exemplo o Estado de Roraima, onde a clientela de baixa renda é muito grande. Por que exigir laje numa casa popular se, como me disse Tiago Fragoso, isso vai elevar em 25% o preço final da casa? Além dos mais, é preciso levar em conta que os responsáveis pela concessão de crédito não levam esse aumento em consideração, pois na hora de calcular o custo do metro quadrado fazem como se fosse sem a laje. Para quem fica o prejuízo então? Claro, para o dono da construtora. Ademais, há outros fatores que encarecem a obra e parece que não estão sendo levados em conta.

E que fatores seriam esses?

ERASMO – As autoridades precisam lembrar em primeiro lugar que Roraima tem o metro quadrado de construção mais caro do Brasil, sua mão-de-obra é também a mais cara e as distâncias que separam Boa Vista dos grandes centros encarecem e muito o frete do material de construção. Por isso, no meu entender, a Caixa deveria manter um padrão racional, sim, mas também adotar valores diferenciados para este Estado. Um saco de cimento em São Paulo custa R$ 17; aqui R$ 31. Isso se agrava ainda mais quando se sabe que a saca de São Paulo é de 50 quilos e a que chega aqui é de 42. Portanto, se a exigência da laje já é um prejuízo enorme para o construtor, o preço final do imóvel acaba tornando praticamente inviável o atendimento da demanda dessa faixa de renda. Afinal, estamos falando de casas populares, não de apartamentos de luxo. Há profissionais de Engenharia que prestam serviços para a Caixa que têm uma visão realista dessa situação em Roraima. Por isso, seus cálculos são mais próximos dessa realidade. Então por que a instituição não os adota em vez de, teimosamente, fincar pé em valores completamente alienados?

Levar em conta a realidade de Roraima na hora de financiar essas construções ajuda?

ERASMO – Claro que sim. Sabemos que não é a Caixa, uma instituição importante na história do crédito social no País, que está prejudicando a cadeia do mercado imobiliário em Roraima, mas algumas pessoas que não enxergam a realidade local. Elas deviam medir melhor as consequências, pois a Caixa tem dinheiro disponível para a concessão de financiamentos, seja para a construção seja para a aquisição desses imóveis. O que não podemos aceitar é ver o setor praticamente paralisado sem que se faça alguma coisa a respeito. Se isso não for feito, Boa Vista terá o setor de construção e venda de imóveis caindo num buraco cada vez maior, o PIB de Roraima, que tem este setor como um dos seus mais importantes componentes, despencando cada vez mais e o desemprego crescendo de forma desenfreada e empobrecendo milhares de famílias. E a economia do Estado, que deveria ter um empresariado cada vez mais forte e ainda mais atuante, fica estagnada. Nós, os empresários, temos que nos unir nessa cruzada para convencer essas autoridades que sem a contribuição de todos não vamos a lugar nenhum.

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