Em meio ao agravamento da crise climática, cidades brasileiras crescem mais em encostas e áreas de risco

Crescimento desordenado em direção as encostas de mata atlântica. comunidade do Banco, no Itanhangá (RJ)
Crescimento desordenado em direção as encostas de mata atlântica. comunidade do Banco, no Itanhangá (RJ) — Foto: Custodio Coimbra

Em um cenário de crescimento de eventos climáticos extremos, um novo levantamento do MapBiomas mostra que as cidades brasileiras vêm crescendo mais em encostas e áreas de risco. A pesquisa mostra que, entre 1985 e 2023, houve um crescimento de 2,4 milhões de hectares a um ritmo anual de 2,4%. Porém, as áreas mais suscetíveis a deslizamentos foram ampliadas em um ritmo maior no período, de 3,3% ao ano.

A área urbanizada no país soma 4,1 milhões de hectares, ou 0,5% do território nacional. Segundo o estudo, divulgado nesta sexta-feira, 70% da ocupação em encostas ocorreram nos últimos 38 anos. Embora a legislação não permita o parcelamento do solo urbano em terrenos com declividade superior a 30%, o MapBiomas localizou 47,6 mil hectares de área urbana nessas condições, a maioria em cidades localizadas na Mata Atlântica (93,6%). Foram 33,2 mil novos hectares no período estudado.

— O crescimento da ocupação em áreas de risco coloca uma proporção significativa da população brasileira em risco. Mesmo que ainda seja uma área pequena do território brasileiro urbano ocupando as áreas, o ritmo de aumento é maior e os eventos climáticos extremos são mais frequentes — ressalta Julio Pedrassoli, coordenador da equipe urbano do MapBiomas.

Nesse universo mapeado, 37,8 mil hectares ficam no Sudeste. Os maiores aumentos no período estudado se deram em São Paulo (820 novos hectares), no Rio de Janeiro (811 hectares), em Belo Horizonte (532 hectares), em Salvador (397 hectares) e em Maceió (180 hectares). A soma do crescimento nas cinco cidades chega a 3,3 mil hectares.

Ao todo, as cinco capitais brasileiras com áreas urbanas em declividades superiores a 30% são Rio de Janeiro (2.695 hectares), São Paulo (1.525 hectares), Belo Horizonte (1.343 hectares), Salvador (739 hectares) e Florianópolis (331 hectares).

O MapBiomas também alerta para o crescimento da área urbana perto de rios e córregos. Segundo o levantamento, de cada quatro hectares de crescimento urbano entre 1985 e 2023 um foi em áreas que ficam a três metros verticais ou menos destes corpos d’água, estando vulneráveis a inundações. Foram 648 mil hectares de expansão, um pouco mais de 25% do crescimento total do período.

Em 2023, essas áreas totalizavam 1,14 milhão de hectares —26,6% do total do território urbano no país. Mais da metade (56,7%) dessa ocupação próxima a rios ocorreu nos últimos 38 anos. O MapBiomas alerta que esses locais são mais suscetíveis a enchentes como a registrada no Rio Grande do Sul no primeiro semestre.

O levantamento aponta que, no ano passado, as áreas urbanas localizada em regiões de risco somaram 115 mil hectares — um crescimento de 60,9 mil hectares entre 1985 e 2023. O Sudeste concentra 48,4% das áreas de risco no país, enquanto Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Pernambuco e Bahia foram os estados com maior proporção de áreas de risco em relação ao território urbano em 2023.

Houve também crescimento de áreas de favelas no país, que representam 4,5% das áreas urbanas. O aumento foi de 104 mil hectares no período estudado, uma expansão anual de 2.760 hectares. Ou seja, a cada quatro anos as favelas crescem o equivalente ao tamanho de uma cidade como Lisboa, em Portugal. Os picos de expansão proporcional no país ocorreram entre 1999 e 2003, quando houve o auge da desigualdade de renda na série histórica avaliada pelo MapBiomas.

A região Norte concentra a maior parte das favelas brasileiras (24%). Entretanto, os estados líderes em termos proporcionais em 2023 são, em sua maioria, do Sudeste: São Paulo, Pará, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Amazonas.

— O mapeamento dessas áreas é muito importante para gestores públicos, principalmente agora, às vésperas da estação chuvosa em todo o Brasil, para que medidas preventivas sejam planejadas e direcionadas para as regiões mais vulneráveis — conclui Pedrassoli.

O levantamento indica também que a área transformada pelo homem, que correspondia a 63% dos setores urbanos em 1985, teve a participação aumentada para 74%. Paralelamente, as áreas naturais no entorno das cidades (tais como florestas, praias, dunas etc.) diminuíram de 37% para 26% nesses 38 anos, o que representa a perda de 1,15 milhões de hectares.

O mapeamento constatou que as áreas de vegetação urbana têm aumentado 4,8% ao ano entre 1985 e 2023 – ritmo maior que os 2,1% ao ano da expansão das áreas não vegetadas no período de 38 anos.

Fonte: O Globo

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