Em conversa exclusiva no Planalto, Lula critica fake news sobre chuvas no RS: ‘Não sabia que existia espécie tão canalha’

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Dedicado nas últimas duas semanas ao socorro à população do Rio Grande do Sul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem demonstrado indignação com as desinformações envolvendo a tragédia climática que assolou o estado gaúcho. O tema está entre as principais preocupações do chefe do Executivo, que escalou auxiliares para discutir formas de responsabilizar quem dissemina conteúdo falso. “Não sabia que existia uma espécie de ser humano tão canalha como a dos caras que fazem fake news”, afirmou Lula ao GLOBO no intervalo de uma reunião no Palácio do Planalto.

Horas antes de retornar ao Rio Grande do Sul pela terceira vez, Lula ajustava com seus auxiliares os últimos detalhes dos anúncios que pretende fazer nesta quarta-feira em São Leopoldo (RS), uma das cidades mais atingidas pelas enchentes que já deixaram 149 mortos no estado gaúcho. O pacote incluirá um voucher de R$ 5 mil para cada família atingida.

Ao lado da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, Lula falou com a reportagem do GLOBO por alguns minutos antes de entrar para uma reunião com o ministro Paulo Pimenta (Comunicação Social). Na conversa, o presidente condenou a facilidade com que as informações falsas se disseminam pelas redes sociais.

— É mais fácil falar a mentira e falar mal do que falar a verdade — disse Lula.

Em ofício encaminhado ao Ministério da Justiça no último dia 7, Pimenta listou perfis que supostamente divulgaram conteúdo falso sobre o trabalho de ajuda aos atingidos pelas enchentes no Rio Grande do Sul e citou o “impacto dessas narrativas na credibilidade das instituições”. A Polícia Federal, subordinada à pasta comandada por Ricardo Lewandowski, abriu um inquérito para apurar o caso.

Integrantes da oposição no Congresso, porém, contestaram a decisão do governo de denunciar alguns perfis que postaram críticas à administração federal. Em sessão realizada nessa terça-feira na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, deputados do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, conseguiram aprovar um requerimento para convidar Pimenta para prestar esclarecimentos ao colegiado sobre o pedido de investigação.

— Liberdade de expressão é um princípio que o governo defende. Ninguém pode ser responsabilizado, denunciado ou criticado por ter uma opinião que eu concorde ou discorde. O que estamos falando é de condutas que se caracterizam como criminosas diante de um momento que o estado vive uma situação excepcional por calamidade — diz Pimenta.

Entre os casos que entraram na mira da investigação da PF, está a informação, já desmentida, de que a Secretaria da Fazenda gaúcha estaria exigindo notas fiscais para caminhoneiros que transportavam as doações, além de que 300 corpos teriam sido encontrados no município de Canoas (RS) — o número, segundo balanço mais recente, chegou a 19 nessa terça-feira.

Levantamento feito pelo GLOBO localizou ao menos vinte notícias falsas diferentes que circularam neste período, amplificadas por políticos e artistas. Apenas as postagens originais tiveram 13,46 milhões de visualizações, segundo dados públicos das plataformas.

Veículos jornalísticos que trabalham com checagem de notícias detectaram uma explosão no número de denúncias de conteúdo falso sobre as enchentes. A Agência Lupa, por exemplo, vem recebendo cerca de 300 pedidos de checagem diariamente apenas em seu canal no WhatsApp — o dobro da média, e quantidade comparável ao período eleitoral.

Fonte: O Globo

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