A corrida presidencial nos Estados Unidos parece estar se encaminhando para um final acirrado, com o último conjunto de pesquisas do New York Times e do Siena College mostrando a vice-presidente Kamala Harris ganhando força na Carolina do Norte e na Geórgia, enquanto o ex-presidente Donald Trump reduz sua vantagem na Pensilvânia e mantém a liderança no Arizona.
Como nos EUA o esquema de votação é indireto, o presidente é eleito por meio do Colégio Eleitoral. Ou seja, no país, os cidadãos votam em delegados que posteriormente elegem de fato o presidente. O número de delegados varia de acordo com o estado, sendo proporcional ao tamanho da população. Na maioria deles, a regra que predomina é a chamada “o vencedor leva tudo”: o candidato mais votado pelos eleitores de um estado leva o voto de todos os delegados. As únicas exceções são Maine e Nebraska, que dividem os delegados por distrito.
Uma vez que a maioria dos estados já têm a predominância de um partido, com votos historicamente sempre direcionados aos democratas ou aos republicanos, o que estará em disputa no Dia da Eleição é o voto dos estados que variaram de sigla nas últimas eleições, conhecidos como swing states (ou estados-pêndulo). Os sete estados-pêndulos correspondem a 93 dos 538 delegados em disputa. Para vencer, é preciso obter 270 delegados, isto é, maioria simples do total. Hoje, Kamala tem o apoio de 226 e Trump, 219.
Há décadas as pesquisas não indicavam uma corrida presidencial tão apertada em tantos estados americanos, tanto no Cinturão do Sol (estados localizados ao sul e oeste do país e marcados por rápido crescimento econômico e diversidade étnica) quanto no Cinturão da Ferrugem (no Meio-Oeste e nordeste do país, região que sofre com o declínio industrial). Esse cenário acirrado torna a corrida altamente incerta, com os próprios assessores de Trump admitindo que não fazem ideia de qual será o resultado do pleito.
As pesquisas mostram que Kamala está ligeiramente à frente em Nevada, Carolina do Norte e Wisconsin, enquanto Trump lidera no Arizona. Os dois estão empatados em disputas em Michigan, Geórgia e Pensilvânia. Os resultados em todos os sete estados, porém, estão dentro da margem de erro — o que significa que, na prática, nenhum dos candidatos tem uma liderança definitiva. Em uma corrida eleitoral tão acirrada, mesmo um pequeno erro sistêmico nas pesquisas pode decidir o resultado.
Há sinais, no entanto, de que os eleitores que decidiram seu voto tardiamente estão mais inclinados a votar na vice-presidente. Entre os 8% dos eleitores que disseram que tomaram sua decisão recentemente, ela lidera com 55% contra 44%. Com o Dia da Eleição se aproximando, 11% dos eleitores permanecem indecisos, uma queda em relação aos 16% de cerca de um mês atrás. As pesquisas ocorrem enquanto mais de 70 milhões de americanos já votaram, de acordo com o Laboratório de Eleições da Universidade da Flórida.
Trump tem ganhado terreno na Pensilvânia, onde Kamala tinha uma vantagem de quatro pontos percentuais em todas as pesquisas anteriores do Times/Siena desde que ela entrou na corrida. A disputa agora está empatada, indicando uma competição cada vez mais acirrada no estado, que, segundo estrategistas de ambas as campanhas, poderia decidir a eleição. O único estado onde a pesquisa indicou vantagem para Trump entre as pessoas que votaram antecipadamente é o Arizona. Lá, 46% dos eleitores disseram já ter votado. Desses, o republicano aparece na frente com 50% a 46%.
As pesquisas também revelam uma mudança nas questões que estão sendo priorizadas pelos eleitores na reta final da disputa. A economia ainda é a principal preocupação, mas em estados como Wisconsin, onde Kamala tem mantido uma vantagem consistente, o aborto agora quase iguala a economia como a questão mais importante para os eleitores. E no Arizona, onde Trump lidera, a imigração continua a crescer como uma questão crucial que influencia as escolhas dos americanos.
Os dados também mostram que o candidato republicano tem conseguido manter o núcleo da coalizão que o apoiou em suas duas candidaturas presidenciais anteriores: eleitores brancos que não frequentaram a faculdade e homens. Ele ainda expandiu seu apoio entre eleitores mais jovens e não brancos, superando sua parcela de votos no Arizona e em Michigan, estados em que ele não venceu na última eleição.
Kamala, por sua vez, tem tido um desempenho inferior em relação à performance do presidente Joe Biden no pleito de 2020 entre eleitores mais jovens, negros e latinos. Mas ela melhorou em relação aos números dele com esses grupos desde que entrou na disputa deste ano. A vice-presidente também é vista como favorita entre as mulheres, que, assim como os eleitores mais jovens, passaram a ver a questão do aborto como a mais importante.
Kamala e Trump intensificaram seus comícios neste domingo nos estados-pêndulo, uma tentativa de conquistar votos a dois dias da eleição. No programa “Saturday Night Live”, a vice-presidente e candidata democrata sentou-se frente a frente com a comediante que a interpreta, Maya Rudolph, em uma penteadeira, como se estivessem se olhando no espelho. A democrata não interpretou nenhum papel, apenas “conversou com ela mesma” durante a performance, que arrancou risadas e aplausos da plateia.
O republicano irá neste domingo à Pensilvânia, à Carolina do Norte (que já visitou duas vezes no sábado) e à Geórgia. Já a ex-procuradora apostará tudo no Michigan. Embora Trump seja o primeiro ex-presidente condenado por um crime e com quatro acusações pendentes, seus comícios são lotados e seus apoiadores parecem perdoá-lo por tudo. Kamala, por sua vez, também enche salas com simpatizantes que gritam “Não vamos voltar atrás” e “Sim, nós podemos”, um slogan emprestado de seu apoiador, o ex-presidente Barack Obama.
A vice-presidente pede que as pessoas “virem a página” de Trump, a quem define como uma pessoa “instável, obcecada pela vingança, consumida pelo ressentimento e em busca de poder descontrolado”. Ele, por sua vez, acusa Kamala de ter “QI baixo” e de ser “incompetente”. Sua oposição ao politicamente correto e a sua retórica anti-imigrante têm sido o centro da campanha republicana. Na reta final, aumentam os temores de um possível surto de violência caso Trump perca e se recuse a reconhecer sua derrota, como fez em 2020. (Com AFP e New York Times)
Fonte: O Globo