A Argentina elege um novo presidente neste domingo. Seja o peronista Sergio Massa ou o ultradireitista Javier Milei o vencedor, ambos chegarão ao cargo com o desafio de dialogar com um Congresso dividido, em que nenhum partido tem maioria, e num cenário no qual a direita tradicional do Juntos pela Mudança — partido do ex-presidente Mauricio Macri e da terceira colocada, Patricia Bullrich — governará a maior parte das províncias do país. Apesar de Macri e Bullrich terem declarado apoio a Milei no segundo turno, outros setores da Juntos pela Mudança discordaram da decisão, na prática dividindo a aliança opositora.
Após o primeiro turno das eleições, as duas Casas ficaram ainda mais fragmentadas com o surgimento do A Liberdade Avança, partido do ultradireitisa Milei. Antes, a legenda tinha apenas três deputados em todo o Congresso argentino. Agora, é a terceira maior força tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado. Isso ameaça agravar ainda mais a falta de consenso.
O peronismo manterá 107 das 257 cadeiras do Congresso — 21 votos a menos do que o quórum necessário para aprovar uma pauta. O Juntos pela Mudança terá 93 assentos e A Liberdade Avança, 37. No Senado, o partido governista terá 34 das 72 cadeiras, três a menos do que a maioria; a centro-direita terá 24 senadores e a ultradireita oito.
Quem chegar à Casa Rosada em 10 de dezembro terá de ser capaz de construir pontes com os governadores de todos os espectros políticos para garantir a governabilidade e, nesse sentido, Massa é quem tem “mais anos de laços políticos e partidários com eles”, afirma a cientista política Lara Goyburu.
— Javier Milei, por ser um político novo, não tem os vínculos ou as estruturas partidárias que podem permitir esses diálogos —explica Goyburu. — Em um cenário de crise econômica, com falta de dólares, em que os recursos naturais pertencem às províncias e com a possibilidade certa de que o setor de energia seja importante na recuperação macroeconômica, ter o apoio ou um diálogo aberto com os governadores será fundamental para as políticas de estabilização que o próximo presidente deseja realizar.
Fonte: O Globo