Efeito apagão: número de reclamações contra Enel no Procon dobra em novembro

Queda de árvores e falta de luz no Itaim Bibi, Zona Sul de São Paulo

O apagão no início do mês, que durou até seis dias em alguns locais da Região Metropolitana de São Paulo, fez dobrar o número de reclamações contra a Enel Distribuição SP nas últimas semanas. Em um intervalo de cerca de quinze dias, entre os dias 1º e 16 de novembro, o Procon-SP recebeu 1501 reclamações contra a concessionária. Em comparação, o órgão contabilizou uma média de 1500 queixas por mês entre janeiro e outubro.

Ao todo, foram 15.964 registros contra a distribuidora até o momento neste ano. O que representa uma possível redução em relação ao período anterior: os 12 meses de 2022 somaram 19.037 reclamações.

Felipe Alves, que trabalha com marketing digital e mora na região do Butantã, Zona Oeste de São Paulo, ficou sem luz por quase sete dias em duas ocasiões, somente no mês de novembro. No dia 3, a energia de sua casa caiu às 15h e a luz só voltou na terça, dia 7, por volta das 5h da manhã. Ele acumulou prejuízos com a situação.

— Eu trabalho com internet, com marketing digital, e por causa disso eu tive que alugar um apartamento no Airbnb pra ficar durante esse período, gastei 800 reais de aluguel, fora a locomoção, comida, então gastei aí pelo menos uns mil reais. Fora as comidas na geladeira, o transtorno, o estresse. E aí agora nesse último feriado, a luz caiu por volta das 22h30, eu estava fazendo algumas coisas do trabalho, e a gente ficou sem luz até 6h do dia seguinte, e foi bem desagradável ficar nesses dias de calor sem luz — desabafa.

Ele conta que um poste nas proximidades de sua casa costuma entrar em curto-circuito quando chove. O problema vem ocorrendo há mais de um ano, mas segundo ele, a Enel não resolve a situação.

— A gente consegue ver e ouvir, e sempre que esse poste explode, na hora já acaba a luz. Essa ocorrência nunca foi solucionada. Em março do ano passado, meu irmão que mora comigo tinha comprado um Playstation 5 e pagou cinco mil reais, e numa dessas explosões, o videogame queimou. A gente fez o laudo junto com a Enel, fez todos procedimentos necessários e eles recusaram o reembolso. Desde lá de trás a gente vem tendo prejuízo com a empresa sem nenhum tipo de apoio ou suporte.

No dia 3, uma forte chuva com ventos de 100 km/h na Grande São Paulo causou um apagão em toda a região, com mais de 2 milhões de endereços sem luz. Muitos locais só tiveram o serviço restabelecido seis dias depois. Menos de duas semanas depois, na última quarta (15), o estado foi novamente atingido por uma forte chuva e 290 mil endereços ficaram sem luz, e o problema persistiu ao longo do dia seguinte. Nesta sexta, a Enel informou que toda a rede foi restabelecida.

O problema gerou uma crise entre a empresa e o poder público. O prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), cobrou a empresa por diversas vezes e, nesta quinta, disse que pediu à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a rescisão do contrato de concessão da companhia nas 24 cidades em que opera na Região Metropolitana. Um grupo foi montado entre Aneel, Enel e outras concessionárias para verificar a possibilidade de ressarcir as pessoas que tiveram prejuízos devido ao apagão do início do mês.

As previsões para os próximos dias não são animadoras. A Defesa Civil emitiu alerta para tempestades e ventanias que vão atingir todo o estado neste fim de semana. As rajadas de vento poderão variar entre 60 e 80 km/h, podendo alcançar até 100 km/h — o mesmo nível do temporal do dia 3 de novembro, que causou mortes, deslizamentos de terra, enchentes e quedas de árvores.

— Eu vi que a previsão do tempo para os próximos dias é de chuva intensa, e me preocupa, qualquer vento ou chuva forte faz a energia sumir por aqui — explica a pedagoga aposentada, Roseli Castro, moradora do Jardim Everest, próximo ao bairro do Morumbi, na Zona Sul da capital.

Roseli ficou cerca de 96 horas sem energia durante o apagão que começou no último dia 03, e cerca de 2 horas nesta quarta-feira. Durante os quatro dias sem energia, ela teve que descartar grande parte da comida que estava na geladeira e recorreu aos parentes para não jogar os frascos de insulina que estavam armazenados na geladeira.

— Já perdi as contas de quantas reclamações fiz para a Enel, prefeitura, Procon, mas parece que esse bairro é sempre esquecido quando o clima muda. Já passei por esses problemas outras tantas vezes, mas parece que tem piorado. Se eu perdesse meus medicamentos, duvido que alguma empresa ou órgão público arcaria com os custos — finaliza a aposentada.

Segundo o órgão, na Região Metropolitana de São Paulo, Campinas e Sorocaba, devem chover um acumulado de 100 mm entre sexta e domingo. Em São José dos Campos, Litoral Norte, Vale do Paraíba, Itapeva e Serra da Mantiqueira, o nível pode chegar até 150mm e, na Baixada Santista, 120 mm.

*Estagiária sob supervisão de Mauricio Xavier

Fonte: O Globo