O relato da açougueira Lucineide de Sousa Silva, de 40 anos, caberia na prova de redação do Enem, realizada no último domingo (5) cujo tema foram os desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil.
Solteira, mãe de três filhas, ela trabalhou até o meio-dia de hoje no açougue de onde tira o sustento da família. Saiu apressada, pois faria a segunda prova do exame que considera uma oportunidade para realizar o sonho de cursar pedagogia.
— Sempre sonhei com isso. Fiz Enem no ano passado, mas não deu certo. Me esforcei tanto… —, disse, emocionada.
Naquela hora, os portões dos locais de prova do exame já estavam sendo abertos pelo país. Lucineide partiu em disparada para casa e, sem sequer trocar de roupas, apanhou a filha, de 19 anos, que tem autismo e também faria as provas nesta tarde, para deixá-la no seu local de prova. O endereço é distinto da Universidade Estadual do Ceará (Uece), onde Lucineide faria o exame.
Foram três carros de aplicativo: um do trabalho para casa, de casa para o local de prova da filha e outro até à Uece. Trajeto que consumiu os 60 minutos que tinha disponíveis. Quando chegou na universidade, às 13h1min, encontrou os portões fechados.
— Eu tive que deixar minha filha em outro colégio antes de vir pra cá. Me esforcei tanto… consegui fazer a prova de domingo, até lembrei disso na hora de fazer a prova de redação, e acabou não dando certo. Não consegui chegar —, lamentou Lucineide, aos prantos.
A açougueira, após ser confortada por outras mães que estavam no local, afirmou que tentará fazer a prova novamente, em 2024.
Fonte: O Globo