Danos causados por ataque do Irã expõem falhas no sistema de interceptação de Israel; fotos

Pessoas em pé sobre os restos de um míssil iraniano no deserto de Negev após um ataque de mísseis iranianos contra Israel
Pessoas em pé sobre os restos de um míssil iraniano no deserto de Negev após um ataque de mísseis iranianos contra Israel — Foto: Menahem KAHANA / AFP

O ataque de mísseis do Irã na terça-feira à noite contra Israel teve um impacto maior do que inicialmente relatado pelo Estado judeu, com alguns dos lançamentos atingindo áreas próximas a bases aéreas israelenses. Embora não tenham causado danos a aeronaves ou pessoal militar, os mísseis danificaram edifícios administrativos e áreas de manutenção — e alteraram, assim, a percepção inicial de que o ataque foi completamente interceptado e falhou em atingir os seus objetivos.

O Irã afirmou que o ataque teve como alvo grandes bases aéreas israelenses, como Nevatim e Tel Nof. Vídeos gravados nas proximidades durante o bombardeio já sugeriam que alguns dos mísseis realmente explodiram na área. Nesta quarta-feira, o Exército de Israel confirmou que alguns desses locais foram atingidos, e imagens compartilhadas por israelenses mostram crateras em áreas centrais e do sul do país, evidenciando o impacto físico do ataque. Apesar dos danos materiais, não foram relatados feridos em Israel até o momento.

Na Cisjordânia ocupada, porém, pelo menos uma pessoa foi morta, de acordo com as autoridades locais. Embora Israel e seus aliados tenham inicialmente retratado o ataque como um fracasso, o fato de que uma parte dos cerca de 200 mísseis disparados conseguiu alcançar os alvos revela uma preocupação antiga das autoridades de segurança israelenses: a possibilidade de que um lançamento massivo de mísseis balísticos por parte do Irã, do grupo xiita libanês Hezbollah ou de uma coalizão entre eles possa sobrecarregar as defesas aéreas do Estado judeu e permitir que alguns foguetes escapem.

Mesmo com danos limitados, o sucesso parcial do Irã também levanta preocupações sobre a capacidade de defesa em áreas urbanas densamente povoadas. O planejamento de contingência de Israel em tempos de guerra já treinou centros de saúde e serviços de emergência para lidar com cenários desse tipo. Ao jornal britânico The Guardian, um funcionário envolvido no assunto afirmou que hospitais foram instruídos a se preparar para eventos de vítimas em massa caso áreas urbanas sejam atingidas por uma onda massiva de mísseis.

Nesta quarta-feira, o reitor responsável por uma escola primária atingida por um míssil iraniano disse à rede BBC que sente ter sido “um grande milagre” o fato de que ninguém em Israel ficou ferido no ataque. Centenas de crianças da escola Shalhavot Chabad haviam permanecido no local até mais tarde na terça-feira para uma celebração do Ano Novo Judaico, que terminou cerca de duas horas antes do ataque, segundo o rabino Rafael Brod. Uma parte do prédio desabou com o impacto do míssil, destruindo salas de aula e uma área de recreação coberta.

— Quando vimos os danos, tivemos medo de pensar no que poderia ter acontecido — relatou o rabino, que também disse estar preocupado com o impacto psicológico das hostilidades para alguns alunos, já que muitos deles moram a poucos metros da escola e ouviram as explosões.

Centros comerciais e carros de civis também ficaram danificados. Ainda segundo relatado pela BBC, uma cratera de 8 a 10 metros de profundidade foi vista ao norte de Tel Aviv. Se qualquer um dos quase 200 mísseis balísticos disparados tivesse atingido um prédio residencial, estádio esportivo ou um shopping center, diz a rede britânica, poderia ter provocado dezenas — e possivelmente centenas — de vítimas.

Ainda que Israel tenha uma das Forças Armadas mais poderosas do Oriente Médio, com sistemas de monitoramento, defesa e ataque extremamente avançados, seu Exército é considerado o 17º mais forte do mundo, enquanto o iraniano ocupa a 14ª posição, segundo o Global Firepower, um ranking especializado em potências militares que analisa o arsenal de 145 países. A comparação é medida a partir do contingente e das capacidades militares de cada país.

De acordo com o Global Firepower, Israel tem 169,5 mil militares ativos nas Forças Armadas, além de 35 mil paramilitares e 465 mil reservistas. O Irã, por sua vez, tem 610 mil militares ativos, 220 mil paramilitares e 350 mil reservistas, ou seja, um contingente ativo quatro vezes maior.

Estimativas de fontes de inteligência dos Estados Unidos indicam que o regime dos aiatolás conta com mais de 3 mil mísseis balísticos, de tipos e com alcances variados, incluindo alguns capazes de alcançar Israel. Uma dessas armas é o míssil Kheibar Shekan, com autonomia para atingir alvos a 1.450 km, distância similar à do país islâmico até Tel Aviv. A preocupação com esse míssil aumentou em janeiro, quando a Guarda Revolucionária o utilizou para atingir alvos inimigos na Síria.

O desenvolvimento de um arsenal de mísseis modernos se tornou uma prioridade para o Irã, como forma de projetar poder para além de suas fronteiras. De acordo com o Centro de Políticas dos Emirados Árabes Unidos, Teerã reservou 41% de seu orçamento militar do ano passado para o programa de mísseis. No entanto, enquanto projéteis cada vez mais tecnológicos, precisos e aerodinâmicos são desenvolvidos no Irã, organizações como o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), de Londres, avaliam que equipamentos das Forças Armadas, como tanques e aeronaves de combate, estão defasados.

Fonte: O Globo

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