Com avanço da Rússia, Otan considera envio de instrutores militares à Ucrânia

Soldados ucranianos preparam canhão de artilharia perto de Marinka, na região de Donetsk
Soldados ucranianos preparam canhão de artilharia perto de Marinka, na região de Donetsk — Foto: Tyler Hicks/The New York Times

Os países da Otan, a principal aliança militar do Ocidente, estão cada vez mais perto de enviar instrutores para a Ucrânia, em missões de treinamento das forças locais, no momento em que Kiev se encontra em uma posição complicada na guerra, em meio a uma ofensiva russa no Leste e Nordeste, e com tropas cada vez mais envelhecidas, exaustas e escassas.

Segundo o New York Times, o general Charles Brown Jr, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas americanas, sinalizou que o envio de militares da aliança para treinamentos dentro da Ucrânia é algo “no qual está se trabalhando”, sem sinalizar se oficiais e soldados dos EUA estariam envolvidos na iniciativa.

Desde o ano passado, o governo ucraniano tem reclamado junto a seus aliados ocidentais sobre o ritmo considerado lento de entrega de armamentos, algo que o próprio presidente Volodymyr Zelensky disse, nesta quinta-feira, ser responsável pelo avanço dos russos. E diante de um número cada vez mais escasso de recrutas, que levou à redução da idade mínima de convocação e à possibilidade de detentos combaterem, Kiev pediu ajuda da Otan para acelerar o treinamento de até 150 mil novos combatentes.

Hoje, boa parte dos treinamentos específicos, ligados à operação de armas ocidentais, ocorre na Polônia, Alemanha e nos EUA, em processos caros e que demandam tempo, algo que os ucranianos parecem ter cada vez menos. E a ideia de levar os instrutores para dentro da Ucrânia não é exatamente nova: em fevereiro, o presidente da França, Emmanuel Macron, provocou polêmica ao dizer que o envio de militares da Otan para o território ucraniano “não deveria ser excluído” — a posição do líder francês foi apoiada pela Estônia e pela Lituânia, duas nações bálticas diretamente envolvidas na guerra.

Mas o próprio general Charles Brown Jr. citado pelo New York Times, afirma que essa é uma decisão difícil de ser tomada. A começar por questões práticas: a presença dos instrutores ocidentais em um cenário de guerra exigiria meios e estratégias para protegê-los, e poderia demandar recursos originalmente destinados aos ucranianos.

Há ainda o aspecto político: caso eles fossem feridos ou mortos em um ataque russo, haveria uma pressão para que fosse acionado o Artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte, que considera o ataque contra um dos membros da aliança um ataque a todos, elevando o risco direto de uma guerra entre os países da organização e a Rússia. Em fevereiro, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que a intervenção ocidental na Ucrânia poderia levar a uma guerra nuclear e “destruir a civilização”.

Até o momento, a Casa Branca rejeita firmemente a ideia, mesmo que sejam instrutores sem função no campo de batalha, de certa forma repetindo o que aconteceu no Iraque após o fim oficial dos combates envolvendo as forças americanas. O governo Biden também pede a seus aliados da Otan que não enviem forças ao país, em qualquer circunstância.

Além do envio de instrutores, os EUA sofrem pressão da Ucrânia para que liberem ataques com armas americanas contra o território russo. Kiev tem atingido alvos a até 1.000km de distância, usando drones e outros tipos de armamentos, mas a Casa Branca pede que seus mísseis de médio e longo alcance não sejam usados nessas ações, temendo uma represália russa. Segundo o site Politico, um grupo de parlamentares ucranianos está em Washington em busca de apoio do Congresso americano para obter essa concessão de Biden.

(Com The New York Times)

Fonte: O Globo

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