O presidente dos EUA, Joe Biden, desafiou o republicano Donald Trump, nesta quarta-feira, para dois debates televisivos antes das eleições americanas, que serão disputadas em novembro, e o republicano respondeu de imediato: “Estou pronto”. Horas depois, os dois confirmaram as datas dos dois primeiros embates: dias 27 de junho e 10 de setembro. O primeiro debate será organizado pela CNN e o segundo pela rede ABC.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, o candidato à reeleição provocou o ex-presidente, dizendo que venceu os debates realizados nas eleições de 2020, quando derrotou Trump nas urnas.
— Donald Trump perdeu dois debates para mim em 2020, e desde então ele não apareceu mais para debater. Agora, ele age como se quisesse debater comigo novamente. Bom, faça o meu dia, parceiro. Eu até participarei duas vezes. Então vamos escolher as datas, Donald. Eu ouvi falar que você está livre às quartas-feiras — disse Biden na gravação.
O tom de Biden na curta peça de campanha mesclou deboches e provocações. A referência ao espaço na agenda de Trump às quartas-feiras, por exemplo, é uma menção aos dias de recesso no tribunal de Nova York, onde o ex-presidente é julgado há mais de um mês no caso de suborno à ex-atriz pornô Stormy Daniels.
Trump respondeu ao vídeo pouco depois da publicação. Em uma postagem na rede Truth Social, fundada por ele, o ex-presidente disse estar preparado para debater com Biden e foi rápido ao aceitar a convocação do rival.
— Estou pronto e com disposição — respondeu Trump. — Vamos nos preparar para a batalha.
O ex-presidente descreveu Biden como “o PIOR debatedor” que ele já “enfrentou” e, depois de confirmar sua disposição de debater nos “dois horários propostos”, pediu um “local muito grande, embora Biden supostamente tenha medo de multidões”.
Biden sugeriu que os dois embates aconteçam sem plateia e organizados pelos meios de comunicação. Pouco depois da troca de mensagens, a rede CNN anunciou que o primeiro embate seria em 27 de junho em sua sede em Atlanta, sem público no estúdio. O segundo, acontecerá em 10 de setembro e será realizado pela rede ABC.
A campanha de Biden vinha resistindo à ideia de incluir o presidente no debate eleitoral tradicional, gerenciado pela Comissão de Debates Presidenciais desde 1988. Os democratas negaram três datas oferecidas pela organização bipartidária de debates eleitorais.
Republicanos e democratas criticaram, ao longo dos últimos anos, a condução dos debates realizados pela organização. O Comitê Nacional Republicano chegou a votar para que o candidato do partido não participasse mais de eventos produzidos pela comissão. No pleito atual, tanto republicanos quanto democratas criticaram sobretudo as datas escolhidas para os debates, em 16 de setembro, 1º de outubro e 9 de outubro, após o início das eleições antecipadas por correspondência.
De acordo com uma carta obtida pelo New York Times, a gerente de campanha Jen O’Malley Dillon argumentou que o formato atual, que tem sido o mesmo há muitos anos, “está fora de sintonia com as mudanças na estrutura de nossas eleições e com os interesses dos eleitores”. A carta também propõe regras rígidas para os debates, incluindo a manutenção dos microfones dos candidatos desligados fora do tempo estipulado, para evitar que falem uns sobre os outros.
“O debate deve ser de utilidade para os americanos que o assistirem na televisão, e não um entretenimento para uma audiência de apoiadores e doadores agitados”, escreveu O’Malley.
A carta também fazia uma série de exigências, como que a realização do debate ocorresse em um estúdio de TV, com microfones que cortam automaticamente quando o limite de tempo do orador termina, e que apenas os dois candidatos e o moderador estejam no local — sem as plateias barulhentas e presenciais e sem a participação de Robert F. Kennedy Jr. ou outros candidatos independentes que possam tirar a atenção dos dois principais postulantes.
A campanha de Biden também propôs critérios para limitar quais redes de televisão teriam permissão para receber o debate. Estariam elegíveis apenas organizações de mídia que hospedaram tanto um debate primário republicano em 2016, no qual Trump participou, quanto um debate primário democrata em 2020, no qual Biden participou. As únicas redes que atendiam a esse critério são a CBS News, ABC News, CNN e Telemundo. Os moderadores do debate, por sua vez, deveriam ser selecionados pela emissora entre seus funcionários.
Não está claro se a campanha de Trump concordou com os detalhes apresentados pelos democratas, mas o “vídeo-desafio” de Biden é o primeiro sinal claro a algo que o republicano tem clamado abertamente: um confronto televisivo com o presidente, que ele tem retratado como alguém fraco para o cargo.
Os democratas também propõem que um debate vice-presidencial seja realizado no final de julho, após Trump e seu vice serem formalmente indicados na Convenção Nacional Republicana, que será realizada em Milwaukee.
A proposta de debate surge em um momento em que as pesquisas eleitorais apontam uma vantagem para o candidato republicano, sobretudo em estados-pêndulos, que costumam decidir as eleições presidenciais. Pela tendência atual, Trump venceria em alguns estados que, na eleição passada, foram cruciais para a vitória de Biden.
Pelas datas propostas, a estratégia democrata parece preocupada com garantir votos antecipados, que desempenharam um papel importante para a campanha de Biden em 2020. A ênfase democrata a esta modalidade de voto naquele ano, em meio à pandemia da covid-19 deram uma vantagem decisiva a Biden, que acabou vitorioso.
Na eleição passada, Trump disse a seus eleitores para não confiarem nos votos por correio e votarem apenas no dia da eleição. Tanto o candidato quanto seu partido parecem decididos a mudar essa imagem até o começo da votação deste ano, com mensagens expressas para que votem antecipadamente, se necessário.
Além de Biden e Trump, a comissão responsável pelos debates foi alvo de críticas abertas por décadas, Em 2000, a campanha de George W. Bush tentou impor seu próprio cronograma de debates, mas acabou consentindo em debates liderados pela organização. Em 2012, os republicanos reclamaram sobre os debates entre Mitt Romney e Barack Obama, quando um moderador checou fatos em tempo real durante um debate.
Em 2016, a campanha de Trump brigou com a comissão para posicionar quatro mulheres na área reservada à família Trump durante o debate. Três delas haviam acusado o marido de Hillary Clinton, o ex-presidente Bill Clinton, de conduta sexual imprópria.
E em 2020, as equipes tanto de Trump quanto de Biden enfrentaram dificuldades com a comissão. Trump boicotou o segundo debate programado, que a organização decidiu transformar em um evento virtual. (Com NYT e AFP)
Fonte: O Globo