Ameaça terrorista: o que os alvos da operação contra o aliciamento de brasileiros pelo Hezbollah disseram à PF

Polícia Federal investiga aliciamento de brasileiros pelo Hezbollah

Os alvos da Polícia Federal no inquérito que investiga o possível aliciamento de brasileiros para a prática de atos terroristas contra sinagogas e centros judaicos no país negaram envolvimento com o Hezbollah. Nos depoimentos prestados, aos quais O GLOBO teve acesso, alguns dos suspeitos de participação no grupo extremista, inclusive, chegaram a apresentar outros motivos para terem viajado ao Líbano, como a realização de shows e até a negociação de ouro e agrotóxicos.

Preso após o encerramento de uma apresentação de seu grupo de pagode, na noite do último domingo, na Praia da Copacabana, no Rio, Michael Messias relatou ter estado por duas vezes em Beirute, capital do país do Oriente Médio, para um “intercâmbio musical”. 


Aos investigadores, ele contou ter conhecido Mohamad Khir Abdulmajid, principal alvo da PF, em um casamento de libaneses no Alto da Boa Vista, também no Rio. O estrangeiro teria então se “interessado por sua música” e levado o músico em seu carro para comprar o pacote de viagem, no fim do ano passado. Já no Líbano, ele disse ter conhecido pontos turísticos e realizado apresentações.

A PF, no entanto, não acredita na versão de Messias e deverá ouvir, nos próximos dias, a mulher do músico. Ela o acompanhou na segunda viagem ao Líbano, em março deste ano. Como O GLOBO mostrou, ele possui uma condenação por roubo a estabelecimento comercial, ocorrido em 2005. 

Também em depoimento em Goiás, outro alvo de um dos 12 mandados de busca e apreensão cumpridos negou ter cometido crimes. Ele assumiu, no entanto, que fora recrutado em Beirute para a criação de “células criminosas” na América do Sul e a identificação de potenciais alvos considerados como “desafetos” do grupo extremista libanês.

Na oitiva, esse suspeito disse ter se encontrado um “chefe” da quadrilha identificado como Stefano, que teria dito que “trabalho proposto” seria “matar desafetos deles” e que estava atrás de “recrutadores”. Ele teria indicado os países — Bolívia, Equador e Colômbia — onde pessoas seriam abatidas e garantido que, para executar a missão, seria dada “toda a estrutura e dinheiro necessário” e que armas deveriam ser adquiridas no Paraguai. 


Já no Distrito Federal, outro alvo do inquérito da PF relatou que viajara ao Líbano sem saber que se encontraria com pessoas ligadas ao Hezbollah. Antes de se reunir com os tais líderes, eles disse ter sido obrigado a deixar celulares e relógios no hotel e só concluiu que se tratava do grupo extremista só depois que voltou ao Brasil.

Em São Paulo, um dos presos, Lucas Passo Lima, também negou relação com o grupo extremista e afirmou ter visitado o país para a realização de acordos comerciais para negociação de ouro e agrotóxicos. Os investigadores, porém, não acreditam na alegação apresentada.


Ao todo, foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão e três de prisão temporária em Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal, Goiás, além do Rio. De acordo com a PF, os recrutadores e os recrutados devem responder pelos crimes de constituir ou integrar organização terrorista e de realizar atos preparatórios de terrorismo, cujas penas máximas, se somadas, chegam a 15 anos e seis meses de reclusão.

Fonte: O Globo