“A falta que Manoel Torres faz”, por Fernando Antônio Bezerra

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Foto: Tribuna do Norte

O Blog do Marcos Dantas compartilha do “Bar de Ferreirinha” o artigo de autoria do advogado seridoense, Fernando Antônio Bezerra. Com o título “A falta que ele faz”, o artigo trata da importância que Manoel Torres de Araújo, ex-prefeito e ex-deputado têm para os dias atuais da política.

A falta que ele faz

Tantas notícias negativas sobre a vida pública nacional que me ocorreu oferecer, ao debate atual, uma lembrança positiva de atuação e história política: Manoel Torres de Araújo (15/02/1918 a 15/01/2012). Ninguém agrada a todos, mas, creio que a maioria vai concordar: Manoel Torres de Araújo faz muita falta à vida pública. Não é obviamente o único a fazer falta. Outros tantos nomes do Seridó de outrora merecem homenagens, mas Manoel Torres foi, seguramente, um dos seridoenses de todos os tempos a merecer o galardão de honra.

Conhecido por sua conduta honesta e pela palavra firme, Manoel Torres foi Prefeito de Caicó, Deputado Estadual, Suplente de Senador e Vice-Prefeito. Poucos sabem, mas o primeiro cargo público de Manoel Torres foi na Prefeitura de Serra Negra do Norte, gestão de Descartes de Medeiros Mariz, na condição do que hoje seria o Secretário Municipal de Administração. Convivi com Manoel Torres e dele recordo inúmeras lições. Aliás, dele e Dona Oscarina de Oliveira Torres (30/04/1925 a 21/11/2008), sua dedicada esposa que, ao seu lado, exerceu importante papel agregador e de apoio à sua carreira política.

Manoel Torres e Dona Oscarina se completavam. Nas duas vezes em que exerceu o cargo de Prefeito, Manoel Torres deu inúmeros exemplos de austeridade, transparência e honestidade. Nas duas vezes, registre-se, administrou com minoria na Câmara Municipal e enfrentou o radicalismo, naquela época ainda presente na política caicoense. Arrumou a casa, fez as obras que podia fazer, apostou pioneiramente no saneamento básico, cuidou com firmeza dos interesses maiores da cidade.

Foi convocado em 1996 para ser novamente candidato a Prefeito de Caicó. Aceitou o desafio, mesmo sabendo das limitações próprias da idade. Não obteve sucesso. Estive com ele durante o resultado. Sereno, mas altivo. No dia seguinte ao resultado eleitoral já estava de volta ao expediente na Santorres (Concessionária Mercedes) para providenciar a venda de um imóvel de sua propriedade para pagar pendências financeiras da campanha.

Sempre suportou as despesas de campanha praticamente sozinho, contando apenas com alguns poucos familiares e amigos. Vendeu patrimônio pessoal ao longo de sua carreira política para honrar os compromissos próprios de uma campanha eleitoral. Ao contrário das notícias de hoje, Manoel Torres teve seu patrimônio diminuído com a atividade política.

Ainda na mesma semana pós-eleitoral de 1996 estive novamente com ele. Fui visitá-lo ao lado de Ruy Pereira dos Santos (in memoriam) que havia sido eleito Prefeito de Serra Negra do Norte. Naquela época, Ruy também era filiado ao PMDB, mesmo partido de Manoel Torres.

Conversamos longamente e Ruy, cheio de entusiasmo falou sobre alguns projetos para a educação. Manoel Torres nos disse que também pensava em alguns novos projetos para Caicó, inclusive, uma bolsa para apoiar estudantes carentes, mas não tinha apresentado tais propostas durante a campanha temendo encontrar a Prefeitura em situação financeira tão precária que não pudesse honrar suas promessas ao povo.

A palavra, portanto, de Manoel Torres, mesmo no calor de uma campanha eleitoral, nunca seria irresponsável. Comedido pelo senso de respeito ao seu povo, Manoel Torres, mesmo para ganhar, não se permitia o risco de prometer sem conhecer as condições que encontraria a Prefeitura Municipal. Faz muita falta!